Na ponta do lápis.
São 7:00hs da manhã de uma quinta fria aqui em Santa Felicidade.
Quando eu pego o caderno para escrever começo automaticamente a analisar e reparar minha letra e a maneira que eu escrevo.
Impossível não comparar com ela mesma de alguns anos atrás.
Vivo profundamente na era da informática e quando digo isto me refiro não somente no modo geral mas especificamente sobre a minha profissão: Infraestrutura de T.I.
Minha idade me permite relembrar a época em que a caneta, o lápis e outras coisas do gênero eram primeira opção ainda em matéria de escrita mesmo já dispondo o mundo de máquinas de escrever e coisa e tal.
Mas atualmente 80% dos textos criados diariamente por grande maioria das pessoas são feitas digitalmente.
São teclas e mais teclas ativas a cada segundo e esquecemos de escrever com a nossa letra.
Percebo que minha mão sente um incômodo neste momento e preciso parar um pouco. Não escrevo com o mesmo desempenho de quando eu praticava diariamente.
As vezes passo o dia todo sem escrever num papel e se há dias que escrevo, são anotações apenas e não textos maiores.
Sempre gostei de escrever e tudo que eu escrevi guardei os papeis com as anotações mas como eu disse ao longo dos anos e devido ao impulso da profissão e da época em que vivemos, os intervalos entre um texto e outro acabam sendo maiores e lá vamos nós para o escape da digitação.
Esta é apenas uma das muitas situações em que o mundo moderno atual nos coloca.
Não percebemos e de repente estamos distantes de algumas características de nossa identidade.
Mas há quem possa dizer neste momento: "Mas ao digitarmos um texto nosso também transmitimos nossa identidade".
De certa forma sim. Você está correto,
Agora imaginemos um texto criado por um poeta dos dias de hoje ou um grande pensador.
Esta pessoa fará uso somente do recurso digital e não utilizará caneta, papel e nem nada.
Texto pronto. Feito no computador.
É hora de salvá-lo!
Mas antes nosso personagem deve assiná-lo.
"FULANO DE TAL" ele escreve em belas letras de classe arial black.
Pronto!
Agora sim ele tem muitas opções de salvar seu texto.
Pendrive, cd, nuvem, no próprio hd, postar nas redes sociais e etc.
Passam-se 50 anos e nosso herói já não vive mais.
Espera-se ansiosamente que seu texto tão importante e que exprime um pensar de uma época passada esteja ainda pela rede mundial de computadores ou que esteja talvez em um museu junto com os pertences do nosso poeta gravado no disco rígido de seu agora velho computador ou em seu também antigo pendrive ou num obsoleto cd.
Também pode ter sido copiado para outros computadores por seus admiradores que sempre o consultam para focarem suas ações ou motivarem suas decisões ou simplesmente sentirem-se nostálgicos.
Muito bem, porém a escrita do poeta nunca existiu.
Sua letra, seu papel não será visto por ninguém.
Sua grafia não posará em museu algum e não se terá manuscrito algum contendo sua obra.
Com 50 anos passado haverá ainda quem possa duvidar da autoria de seu texto.
Haverá quem poderá plagiá-lo, modificá-lo e até distorcê-lo.
O poeta matou sua obra no exato momento em que não o faz nascer no papel.
No exato instante que a salva digitalmente após criá-la também neste ambiente.
É o fim!
* Manuscritos desta postagem devidamente salvos nos arquivos pessoais do autor.